Pandemia e a potencialização da ansiedade!

Vivemos um tempo desafiador, o futuro se apresenta imprevisível e incerto, exigindo agilidade na adaptação desta nova condição. As circunstâncias atuais podem causar ansiedade, para alguns numa intensidade aceitável, mesmo que oscilante, e para outros de uma forma que pode parecer uma avalanche, desorganizando de imediato o bem estar, causando sofrimento emocional.

A ansiedade se apresenta como uma sensação de inquietação, desconforto e apreensão sem uma causa clara. Mas em nível equilibrado, é uma sensação benéfica que faz o sujeito almejar objetivos, se movimentar para realizar algo, seja trabalhar, estudar, se relacionar, buscar experiências que lhe tragam prazer, dentre muitas outras conquistas.

A experiência pode ser incômoda por se repetir ou persistir a maior parte do dia, numa intensidade elevada, atrapalhando a rotina de quem a vive causando preocupação e angústia. Por exemplo, pode alterar ou atrapalhar o sono e desregular a alimentação (para mais ou para menos). Os sintomas físicos surgem como uma agitação motora, na fala, na respiração, desencadeando sinais corporais que antes não existiam. Nesse momento de pandemia, os cuidados com a higiene mudaram, mas pode surgir um comportamento excessivo e a constante preocupação com a esterilização de todos os objetos, tomando uma nova dimensão na vida desta pessoa.

Quando esses sinais se tornam tão intensos a ponto de interferir na rotina, impedindo ou causando prejuízos nas relações sociais do sujeito, na vida afetiva e profissional, é hora de considerar a possibilidade de buscar ajuda terapêutica, evitando assim o agravamento deste sofrimento emocional.

É possível haver uma manifestação mais clara dos sinais de ansiedade, que podemos nomear como uma crise. Esse conjunto de sintomas, que surgem aos poucos e num determinado momento chegam ao máximo são sensações muito individuais. Por exemplo, uma pessoa pode acordar e iniciar o dia bem, mas no final da manhã começar a sentir uma angústia, uma aflição, uma tristeza,um aperto no peito, um desconforto que não é bem definido. Os pensamentos negativos se tornam insistentes, intrusivos, se consolidando e num dado momento os sintomas físicos se acentuam e chegam como num ápice, as mãos gelam, o suor é intenso, com tremores acompanhado de um sentimento de medo ou um choro desmotivado. A frequência e a intensificação destes episódios é o que podemos chamar de crise de ansiedade, mas destaco que nem todas as pessoas terão todos esses sinais ou da mesma forma.

Para diminuir as possibilidades de ficar mais ansioso nesse momento da pandemia, recomenda-se estabelecer e manter uma rotina mesmo que diferente da anterior ao período pandêmico. A rotina proporcionará uma sensação de segurança e projeção dos momentos que estão por vir, mantendo a sensação de “certeza”. A manutenção das atividades de lazer, como leitura, atividade física e o relaxamento são de valiosa ajuda. Ouvir a sua música preferida, aprender ou praticar um artesanato, a pintura, a marcenaria ou jardinagem são atividades manuais agradáveis e que podem ser realizados, especialmente com os filhos que estão sem a rotina escolar, fortalecendo os vínculos familiares. As interações sociais com os amigos e familiares, pessoas que já faziam parte dos relacionamentos, por telefone ou vídeo-chamada, são fundamentais para abrandar a ansiedade e a saudade dos entes queridos. É uma forma de cuidar e ser cuidado mesmo com o distanciamento físico. Não esquecendo de limitar os horários para o trabalho e para as demais atividades diárias, ter essa demarcação na rotina é primordial para o bem estar, com ou sem pandemia!

Pode ser necessário buscar ajuda terapêutica, cuidar-se nesse momento é muito importante. A terapia se propõe a oferecer esse espaço para reflexão sobre o contexto atual e o passado, questionando e entendendo se as situações colaboram para o surgimento de crises ou momentos mais acentuados de ansiedade, ou se já existiam numa discreta apresentação, e foram potencializados pela nova circunstância mundial ou outra que possa estar ocorrendo. O atendimento terapêutico online se consolida como uma ferramenta facilitadora ao atendimento psicológico tradicional, mas também pode-se buscar o presencial, seguindo os protocolos de biossegurança recomendados.